segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Análise do Diálogo sobre a Conversão do Gentio

• O diálogo certamente se dirigia aos estudantes dos colégios jesuíticos ou/e aos colonos que tratavam com os indígenas.
• Naturalidade coloquial, o diálogo jamais descamba para o retórico.
• Do prisma doutrinário, observa-se que Manuel da Nóbrega propunha por ideais ecumênicos a igualdade entre o Papa e o índio, no tocante à alma.
• Pensamentos de fé baseados nas Escrituras.
• O estilo e o conteúdo das falas exibem coerência, cada personagem articula sempre os pensamentos numa dicção adequada.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

MASSAUD, Moisés. Origens e formação. In: MASSAUD, Moisés. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix. 2007. p. 31.


sábado, 15 de fevereiro de 2014

Vocabulário

Significado de algumas palavras citadas no diálogo para auxiliar na compreensão:

Chãmente: de modo chão, simples ou vulgar, singelamente com lisura, de boa fé, francamente.
Contumácia: grande teimosia, obstinação, contumaz.
Estulto: tolo
Sobejo: que sobeja, restos, de sobra.
Pertinaz: muito tenaz, pertinácia, excesso de obstinação ou persistência, teimosia.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Século XXI Escolar: O midicionário da língua portuguesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.


Nóbrega e a bênção a Anchieta antes da partida

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Trecho do Diálogo sobre a Conversão do Gentio

Os interlocutores são: Gonçalo Álvares (curador de índios) e Mateus Nogueira (ferreiro da Companhia).


Mateus Nogueira

Já que tanto apertais comigo, e me pareceis desejoso de saber a verdade deste negócio – creio  que vos tenho esgotado – dir-vos-ei o que muitas vezes martelando naquele ferro duro estou cuidando e o que ouvi a meus Padres por muitas vezes. Parece que nos podia Cristo, [que] nos está ouvindo, dizer: Ó estultos e tardios de coração para crer! Estou eu imaginando todas as almas dos homens serem umas e todas de um metal, feitas à imagem e semelhança de Deus, e todas capazes da glória e criadas para ela; e tanto vale diante de Deus por natureza a alma do Papa, como a alma do vosso escravo Papaná.


Gonçalo Álvares

Estes têm alma como nós?


Mateus Nogueira

            Isso está claro, pois a alma tem três potências, entendimento, vontade, que todos têm. Eu cuidei que vós éreis mestre já em Israel, e vós não sabeis isso! Bem parece que as teologias, que me dizíeis arriba, eram postiças do P. Brás Lourenço, e não vossas. Quero-vos dar um desengano, meu Irmão Gonçalo Álvares: que tão ruim entendimento tendes vós para entender o que vos queria dizer, como este gentio para entender as coisas de nossa fé.


Gonçalo Álvares

            Tendes muita razão, e não é muito, porque eu ando na água aos peixes-boi e trato no mato com brasil. Não é muito ser frio! E vós andais sempre no fogo, razão é que vos aquenteis. Mas não deixeis de prosseguir adiante, pois uma das obras de misericórdia é ensinar aos ignorantes.


.................................................................................................................................................


Gonçalo Álvares

            Pois como tiveram estes pior criação, que os outros, e como não lhes deu a natureza a mesma polícia que deu aos outros?


Mateus Nogueira

            Isso podem-vos dizer chãmente, falando a verdade, que lhes veio por maldição de seus avós, porque estes cremos serem descendentes de Cam, filho de Noé, que descobriu as vergonhas de seu pai bêbado, e em maldição, e por isso, ficaram nus e têm outras misérias. Os outros gentios, por serem descendentes de Sem e Jafete, era razão, pois eram filhos de benção, terem mais alguma vantagem. E porém toda esta maneira de gente, uma e outra, naquilo em que se criam tem uma mesma alma e um entendimento. E prova-se pela Escritura, porque logo os primeiros dois Irmãos do mundo, um seguiu  uns costumes e outro outros. Isac e Ismael ambos foram Irmãos, mas Isac foi mais político que o Ismael, que andou nos matos. Um homem tem dois filhos de igual entendimento, um criado na aldeia e outro na cidade; o da aldeia empregou seu entendimento em fazer um arado e outras coisas da aldeia, o da cidade em ser cortesão e político: certo está, que ainda que tenha diversa criação, ambos têm um entendimento natural exercitado segundo sua criação. E o que dizeis das ciências, que acharam os filósofos que denota haver entendimento grande, isso não foi geral benefício de todos os humanos dado pela natureza, mas foi especial graça dada por Deus, não a todos os romanos nem a todos os gentios, senão a um ou a dois, ou a poucos, para proveito e formosura de todo o universo. Mas que estes, por não ter polícia, fiquem de menos entendimento para receberem a fé, que os outros que a têm, me não provareis vós nem todas as razões acima ditas; antes, provo quanto polícia aproveita por uma parte, tanto dana por outra, e quanto a simplicidade destes estorva por uma parte ajuda por outra veja Deus isso e julgue-o. Mais fácil é de converter um ignorante que um malicioso e soberbo. A principal guerra, que teve a Igreja, foram sobejos entenderes: daqui vieram os hereges e os que mais duros e contumazes ficaram; manou a pertinácia dos judeus que, nem com serem convencidos por suas próprias Escrituras, nunca se quiseram render à fé; daqui veio dizer S. Paulo: Nós pregamos a Jesus Cristo crucificado, aos judeus escândalo e às gentes estultícia. Dizei-me, meu Irmão, qual será mais fácil de fazer? Fazer crer a um destes, tão fáceis a crer, que nosso Deus morreu, ou a um judeu, que esperava o Messias poderoso e Senhor de todo o mundo?

(Diálogo sobre a Conversão do Gentio, Lisboa, IV Centenário da Fundação de São Paulo, 1954, p. 88-89, 93-95).


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


MASSAUD, Moisés. Origens e formação. In: MASSAUD, Moisés. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix. 2007. p. 28-30.



Nóbrega e Anchieta com a tribo dos Tamoios




quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A obra de Padre Manuel da Nóbrega

Padre Manuel da Nóbrega teve duas fases estilísticas: 

A primeira fase estilística de Manuel da Nóbrega: as Cartas.
Essas cartas-relatórios ostentam menor significação por serem isentas de carga imaginativa. Nas primeiras cartas, a mercê da obrigação e do intuito de informar com objetividade, o estilo é pobre e impessoal. Com o tempo, a linguagem dos seus textos veio a modificar-se e a adquirir contornos literários. A partir das cartas “Aos Moradores de S. Vicente” (1557) e “A Tomé de Sousa” (1559), a escrita de Manuel da Nóbrega ganha colorido antes desconhecido. As Cartas do Brasil foram destinadas a diferentes pessoas dentre elas: D. João III, a sacerdotes superiores da Companhia de Jesus, a seus mestres de Coimbra. As missivas (cartas) continham informações da terra e da gente do Brasil. As Cartas tem sua importância principalmente do ponto de vista histórico.

A segunda fase estilística: Diálogo sobre a Conversão do Gentio.
Os interlocutores do diálogo são Gonçalo de Álvares “uma espécie de curador de índios” a serviço da Companhia e o Irmão Mateus Nogueira, ferreiro da Companhia. O tema está proposto no título, a conversão do indígena à fé cristã, efetuada em três etapas (a catequese, o batismo e a perseverança). Mais liberto das obrigações de noticiar e de solicitar ajuda do reino, o jesuíta se põe a fazer a doutrina em torno da educação do gentio segundo o Cristianismo. Essa é considerada a melhor fase da carreira intelectual de Manuel da Nóbrega. A utilização do diálogo como recurso expositivo evidencia seu intuito literário. O Diálogo sobre a Conversão do Gentio constitui o primeiro documento literário em prosa escrito no Brasil.

As Cartas do Brasil, foram estampadas pela primeira vez em conjunto em 1886. O Diálogo sobre a Conversão do Gentio foi composto entre junho de 1556 e início de 1558 e impresso pela 1ª vez em 1880, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Rio de Janeiro. Ambas as obras foram depois publicadas pela Academia Brasileira de Letras em 1931, e em 1954, por ocasião do aniversário dos 400 anos da cidade de São Paulo. Sua opera omnia*  foi publicada também em Coimbra, em 1955, com introdução e notas de Serafim Leite.



*Opera omnia: essa locução latina traduzida literalmente significa “toda obra”. Utiliza-se essa expressão para falar da totalidade de obra de um determinado autor, filósofo, romancista ou musicista.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

MASSAUD, Moisés. Origens (1500-1601). In: MASSAUD, Moisés. História da literatura brasileira. 4 ed. São Paulo: Cultrix. 1997. p. 27-32.








quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Biografia do Padre Manuel da Nóbrega


Padre Manuel da Nóbrega nasceu em Portugal em 18/10/1517. Estudou nas Universidades de Salamanca e de Coimbra. Graduou-se bacharel em direito canônico e filosofia em 1541. Entrou para a Companhia de Jesus em 21/11/1544. Veio para o Brasil em 1549 chefiando a primeira missão Jesuítica. Foi nomeado primeiro Superior e Primeiro Provincial da Ordem no Brasil. Foi colaborador na fundação da cidade de Salvador (Bahia) e do Rio de Janeiro. Fundou São Paulo em 25/01/1554 ajudado por José de Anchieta. Faleceu no Rio de Janeiro em 18/10/1570. Escreveu as Cartas do Brasil (publicadas em conjunto somente em 1886) e o Diálogo sobre a Conversão do Gentio (composto em 1556 e 1558, e publicado somente em 1880). Seus escritos só foram publicados muito tempo depois de sua morte como se pôde observar.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

MASSAUD, Moisés. Origens (1500-1601). In: MASSAUD, Moisés. História da literatura brasileira. 4 ed. São Paulo: Cultrix. 1997. p. 27.

Pátio do colégio, o início da cidade de São Paulo